sábado, 26 de julho de 2008

De Bar em Bar II

Domingo de sol. São 10:00 horas. Está um dia lindo, ideal para qualquer tipo de programa: visitar um amigo, ir à praia - bem que a mulher chamou - ou dar um pulo na casa de algum parente. Ao invés disso, pega o violão, o cavaquinho e um pandeiro e põe tudo no carro. Chama o filho e, quase as escondidas, se mandam.
O filho, conhecendo suas verdadeiras intenções, diz que tem um compromisso e precisa voltar logo.
_ É coisa rápida, diz.
Depois de rodar um pouco, passam por uma praça bem arborizada com um quiosque no centro. Para o carro, observa bem e estaciona. Descem com os instrumentos e encaminham-se para uma mesa localizada embaixo de uma mangueira. Sentam-se. A sombra é uma maravilha. Sopra um ventinho gostoso. Chama o garçom.
_ Pois não senhor?
_Traga, para mim, uma cachaça e uma água de coco pro meu filho.
O garçom traz o pedido. Ele toma a cachaça. Começam a tocar. Ele no violão, o filho no cavaquinho. Alguém pega o pandeiro. Aos poucos, a platéia vai-se formando e surgem os inevitáveis pedidos.
- Toca alguma coisa do Chico; Ataúlfo Alves, diz outro; Noel Rosa, pede alguém; Amado Batista - entreolham-se, sorriem e apagam, mentalmente, esse pedido - Martinho da Vila, fala um moreno cantarolando "Já tive mulheres..."; Mousueto, mais outro. Uma lista sem fim.
A brincadeira segue animada. O filho, sempre que eles dão uma paradinha, lembra que tem um compromisso. Por volta das 14:00 horas, o filho, já impaciente, levanta-se e fala que não pode mais ficar. Ele olha para o filho e diz, quase implorando:
_ Só o potpourri de Nelson Cavaquinho e a saideira.
O filho, não querendo desgostá-lo, mas não podendo mais ficar, devido o compromisso assumido diz, encerrando o assunto:
- Pai você já tomou quatro saideira e potpourri de Nelson Cavaquinho já repetimos duas vezes.


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Não gosta de restaurantes. Infelizmente não como evitá-los totalmente. Não se sente bem num restaurante. Quanto mais elegante o ambiente, menos a vontade ele fica. Tentou de tudo mas não houve como fugir do convite de um casal amigo para jantar.
O restaurante, ele não conhecia - aliás conhecia pouquíssimos - era elegantíssimo. Ao chegar começou a ficar sem jeito. Quando o manobrista veio pedir-lhe a chave para estacionar o carro, começou a tremer. Não estava bem. Segurou a mão da esposa como se gritasse SOCORRO. Ela apertou-lhe a mão. Ganhou mais confiança. Entraram e dirigiram-se a um local com pouca luminosidade. "Que bom! Assim não não sou notado. Qualquer rata, ninguém vê" pensou. Sentaram-se e começaram a conversar. Passado certo tempo, estava mais tranquilo e, consequentemente, mais a vontade. O amigo pediu whisky - cachaça naquele ambiente, nem pensar - para eles e coquetel para as esposas. Junto com as bebidas veio o courvert. Ele, que já havia tomado algumas doses de pinga antes de sair de casa, olhou e viu aquelas coisas arredondadas, "ovos de codorna", disse mentalmente. Tomou um gole de whisky, espetou um "ovo de codorna", levou-o à boca e só então percebeu que era, na realidade, uma bolinha de manteiga. E agora? Fazer o que? Engolir, óbvio. Ficou mudo. Os olhos enceram-se de lágrimas. Fez um esforço sobre humano para não vomitar. Aos poucos a manteiga foi derretendo e ele engoliu. Esperou o pior, não aconteceu. Deu graças a Deus. Tomou outro gole de whisky. Olhou para trás e lá estava ele, o maitre, imóvel como uma múmia, sorrindo discretamente. Perdeu o bom humor e o resto da noite.

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