terça-feira, 22 de julho de 2008

Flagrantes da Vida Real

Sofreu um acidente e fraturou o braço direito em três locais. Além das fraturas houve também desligamento do tendão. Submetido a uma cirurgia, foi necessário colocar uma haste. Passou a usar uma tipóia. Quarenta dias depois, já realizando algumas atividades simples, resolveu ir, sozinho, ao supermercado. A esposa, conhecedora da sua instabilidade emocional, não concordou. O fato dele perder, facilmente, o controle com perguntas e atitudes bobas - que ele chama de imbecis - e comportamento anti ético, sempre foi motivo de preocupação para ela. Nesses casos, responde de forma grosseira e é extremamente sarcástico. " Perguntas imbecis merecem respostas cretinas," diz.
_ Querido eu tenho medo que você magoe o braço e perca a paciência com alguém.
_ Isso não vai acontecer, eu lhe garanto. Além de estar preparado psicologicamente, vou colocar a tipóia. Não se preocupe. Pode ficar tranquila.
Colocou a tipóia a fim de prevenir esbarrões - em casa já não usava mais - e lá se foi. Teve sérias dificuldades para dirigir. Com o braço direito trocava as marchas e apoiava a direção, apenas. O braço esquerdo ficou responsável por quase tudo. Apesar dos movimentos lentos, dolorosos e imprecisos, achou uma maravilha sair de casa sem alguém ao lado. Queria mesmo era dar uma volta, ver gente, conversar com pessoas diferentes.
No supermercado, após apanhar algumas coisas banais: biscoitos, iogurte, requeijão e presunto, ia empurrando um carrinho de pequenas compras cuidadosa e vagarosamente com o braço são, quando, de repente, uma senhora,atendendo o celular distraidamente, com o carro abarrotado de compras esbarra no seu. Devido ao choque ele bateu com o braço quebrado numa prateleira. Sentiu uma dor insuportável. Teve uma vontade enorme de dizer mil palavrões. Pensou na esposa, respirou fundo e controlou-se. Olharam-se. Ela guardou o celular e não disse nada. Ele, encarando-a, disse:
_ Desculpe senhora.
_ Desculpe por que? Ela perguntou.
_ Por eu ser cego e estar no seu caminho, disse sorrindo sarcasticamente e dirigiu-se ao caixa.


o o O o o


Foi ao shoping com a esposa. Lá separaram-se. Ele estava precisando de calçados e entrou numa sapataria. Disse para ela que iria demorar um pouco.
_ Você pode resolver suas coisas que quando eu terminar vou esperá-la aqui mesmo.
Ficou na sapataria e ela saiu. Ia fazer pagamentos, comprar roupa e sapatos para ela e os filhos e algumas coisas para a casa.
Depois de um certo tempo, ela retorna e, ao vê-lo numa fila quilométrica, pergunta:
_ Você comprou os sapatos, querido?
Imediatamente ele respondeu, em um tom de voz perfeitamente audível pelas pessoas que se encontravam nas proximidades:
_ Não, não. Eu estou aqui por que adoro ficar na fila.

Nenhum comentário: