quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A La Carte

Segunda-feira de manhã quando chegou trabalho, de ressaca - aquele whisky, ontem à noite, devia ser paraguaio - viu, no quadro de avisos, a seguinte nota.

Comunicamos a todos os funcionários que no próximo sábado estaremos realizando um
work shop onde trataremos de assuntos de interesse geral, de acordo com o horário a
abaixo.
- 8:00 horas - Início do work shop
- 9:30hs às 10:00hs - Coffe break
- 12:00 horas - Término do work shop

Terminou a leitura e dirigiu-se à sua sala a pensar ." Quando e onde vamos parar com tanto anglicismo? Por que esse emprego exacerbado de termos estrangeiros? Já não basta o gerundismo?" Entrou, sentou-se e continuou pensando no assunto. Não era contra. Isso sempre aconteceu e continuará ocorrendo. É impossível evitar. O problema é que atualmente a coisa virou mania nacional. Esses termos são usados comumente em todos os setores da sociedade. Fazem parte do dia-a-dia. Estão presentes na educação, no trabalho, no lazer, no convívio familiar, em tudo. Tudo mesmo, como se fosse algo epidêmico. Xenofobismo dirá você. Pode ser, pode ser. Mas, vamos e venhamos, por que uma empresa de médio porte, prestadora de serviços, pouquíssima mão-de-obra especializada tem que chamar uma reunião de work shop? E o intervalo para a merenda de coffe break? Não dá prá aguentar, dá?É um tremendo absurdo!
Começara mal - duplamente - o dia. Ia ter uma segunda-feira difícil. Mais difícil do que de costume. Começou analisar uns relatórios, mas aquilo não lhe saía da mente: show room, fashion week, socialite. Não conseguiu concentrar-se no trabalho. Estava enjoado de tudo e com dor de cabeça. Foi ao banheiro, lavou o rosto e voltou. Além do mal estar fisiólogico, estava até o gogó com tanto americanismo(?) : dog shop, pet shop, cat shop, e haja shop. Se duvidar, esses animais, logo logo estarão latindo e miando em inglês. Outro dia, entretanto, viu uma loja de produtos veterinários com um enorme cão de gesso na frente e na parede o nome: Vira Lata. Achou o máximo, muito criativo, bem brasileiro. Tanto quanto o fila. Entrou e parabenizou o dono. Em contra partida, próximo à sua residência, há uma loja do gênero, cujo nome escrito com enorme letras vermelhas, é Pet Beach. è Impressionante, não? Não acredita? É verdade! Aliás, por onde você anda, o que encontra, compra, ver, ler e conversa, é sempre a mesma coisa. Lá estão eles: os invasores americanos. American aliens -me perdoem mas eu também sou brasileiro - controlando tudo! No futebol, lembra quando o indivíduo dava o drible da vaca? Lembra? Agora é overlap. E a partida de desempate, a fomosa negra? Playoff. Tá lembrado da morte súbita, o primeiro gol da prorrogação? Mudou para golden goal. O mal já contaminou até os prestadores de serviços: personal training, personal style, personal houser. Outro dia ficou impressionado com um anúncio que viu no jornal. "Procura-se um personal friend. Paga-se..." Não quis acreditar, mas o anúncio era bem real. Já pensou? É concebível contratar um estranho como amigo?
Tentou voltar ao trabalho, entretanto uma luzinha começou a piscar na sua mente - week end, test drive, halloween, beach park - e tirou-lhe a concentração.
Durante toda a manhã foi assim. Não conseguiu fazer nada. Perdeu, profissionalmente, o expediente matinal.
Por volta do meio dia continuava com mal estar. Levantou-se e foi ao banheiro. Tentou vomitar e não conseguiu. Na volta foi interpelado por um colega.
_ E a bóia? Onde vai ser?
_ Não sei. Hoje estou de saco cheio, enjoado e sem apetite.
_ Que tal darmos um pulinho num novo self service que inauguraram no outro quarteirão e fazermos um fast food ?
Olhou para o colega com cara de poucos amigos. Quis esganá-lo. Controlou-se e respondeu:
_ Não estou a fim.
Começou tudo outra vez. Hot dog, big Mac, coke diet, coke ligth. " Não, hoje, definitivamente, o dia não está prá mim", disse mentalmente. Deu uma desculpa ao colega e saiu. Perambulou um pouco até melhorar do enjoo e sentir fome. Encontrou um pequeno restaurante com serviço " a la carte" e almoçou. A la carte? Sim. Pelo menos mudou o idioma!

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