sábado, 9 de agosto de 2008

Amigo É Prá Essas Coisas

Quer um conselho? Cuidado quando for escolher sua cara metade. É psicanalista?Pense duas vezes. Se você também for analista tudo bem. Loucos juntos se entendem, mesmo não falando coisa com coisa. Se, entretanto, você é uma pessoa normal - ou parece ser - desista. Por quê? Porque das três uma: ou vocês terão uma relação puramente profissional, paciente-analista, ou serão como dois estranhos ou você vai parar num hospício e, nesse caso, a vaca vai pro brejo. Sinceramente, essa não é minha opinião. Falo em nome de um amigo casado com uma analista. O sujeito está para ter um troço. Outro dia, durante uma partida de gamão, ele abriu o baú.
_ Vou entregar os pontos. Não aguento mais.
_ O que que você não aguenta mais?
_ Viver com a Anabel. O nosso relacionamento vai de mal a pior.
_ A coisa tá tão ruim assim?
_ Tá. O clima, lá em casa, tá péssimo. Discutimos muito. Tudo acaba em briga. Quase não transamos mais.
_ Por que isso tudo?
_ Você não sabe o que é conviver com tantos problemas dos outros. Suportar TDOs, TOCs e DDAs e mais uma infinidade de transtornos alheios, como se já não bastassem os nossos próprios problemas.
_ Seja mais explícito.
_ Anabel tá trazendo os problemas da clínica prá casa. À noite, quando chego em casa, é sempre o mesmo lenga-lenga: o TDO de fulano, o TOC de sicrano, o DA de beltrano. É insuportável.
_ Entendi. Ela quer compartilhar os problemas com você, pede sua opinião e você tira o corpo fora.
_ Não é bem assim. Apenas não suporto mais a mesma história todo dia, além de discordar dela sobre alguns traumas defendidos com unhas e dentes.
_ E daí?
_ Fica brava. Acha que faço troça.
_ E não é verdade?
_ Não. Simplesmente não concordo com alguns desses conceitos modernos para problemas que eu não acho tão complicados. Talvez seja consequências da maneira como fui criado. O Transtorno Desafiador Opositor eu defino como birra, pirraça, teimosia . No meu tempo era corrigido com umas boas palmadas. Hoje isso não é aceitável. Conclusão: os pais e professores terminam num hospício. Uma noite, falando, sobre um caso de Transtorno Obsessivo Compulsivo, ela disse que tinha recebido um paciente que tinha compulsão de lavar as mãos prá tudo. Até prá rezar!
_ Você não tá exagerando?
_ Um pouco. A verdade é que eu disse que daria um prêmio se ela citasse um caso semelhante com um nordestino que mora no interior, passa o dia trabalhando na roça e quando chega em casa só tem água prá beber, quando tem.
_ E ela?
_ Virou uma fera. Disse que eu não ligava, o mínimo, pro seu trabalho.
_ E você?
_ Disse que em muitos casos o problema estava na falta do que fazer. Abri um papelote, preparado previamente, e li: " Trabalho significa apetite, alegria, vivacidade, coração feliz, sono tranquilo, mente serena, paz na alma e júbilo no coração. (...) Saúde e alegria ao homem(...)
_ Ela aceitou?
_ Que nada. Disse que não conhecia o texto. Eu devia ter inventado. Eu quis justificar mostrando um dos seus livros mas ela deu o assunto por encerrado. É sempre assim. Ou encerramos a conversa ou termina em briga. E sexo que é bom, nada. Dá prá aguentar?
_ Há outros transtornos com os quais você não concorda?
_ Falando a verdade eu discordo de quase todos. O Deficit de Atenção (DA) eu digo que é descaso, má vontade, preguiça. Tivemos uma discussão séria quando ela falou sobre um paciente com DA/HI e explicou que tratava-se de um caso especial de Deficit de Atenção predominantemente Hiperativo-Intensivo.
_ Por que a discussão?
_ Eu disse que, na minha opinião, esse sujeito além de preguiçoso era também bagunceiro.
_ Pelo visto vocês tiveram outra noite sem sexo.
_ Claro. Aliás, sexo lá em casa tá igual a bolo com refrigerante em casa de pobre. Só em dia de aniversário. No nosso caso, aniversário de casamento.
_ Não exagere, amigo.
_ Não é exagero. A verdade é que nosso casamento tá degringolando. Recentemente tivemos duas brigas feias.
_ Sou todo ouvidos.
_ A primeira ocorreu há aproximadamente um mês. Antes do jantar ela falou sobre PMD. Brincando, eu perguntei se se tratava de um novo partido político: Partido do Movimento Democrático. Ela levou a sério. Ficou vermelha como um tomate e soltou os cachorros. Depois de uma lista sem fim de qualificativos(?) - eu nem sabia que existia tantos - iniciada por ignorante, explicou que era um caso de Psicose Maníaca-Depressivo. Meu amigo, o tempo fechou. Choveu canivetes.
_ E a outra?
_ Mais ou menos uma semana atrás, quando voltava do trabalho, parei num barzinho prá tomar um drink. A garota que me atendeu era um pecado. Usava um shortinho curto e apertado e uma camiseta sem soutien. Uma verdadeira tentação! Some-se isso ao meu ao "meu jejum". Tomei dois drinks e me mandei prá casa "aceso".
_ ???
_ Quando cheguei em casa ela tava no banho, com a porta do banheiro só encostada. Entrei despido e "armado" e agarrei-a. Ela debateu-se, esperneou e gritou ameaçando ir a Delegacia da Mulher. Brochei. Tenho mais medo dessa "dona" Maria da Penha do que o cão de reza. Meu pingolim, coitado, ficou "traumatizado".
_ Acabou por aí?
_ Nada disso. Mais tarde, refeita, disse que eu estava doente, que tinha tentado estuprá-la e que precisava de um tratamento. Entregou-me em seguida uma relação de analistas e disse:"Não posso tratar do seu caso porque é anti ético o envolvimento entre o paciente e o analista".
_ O que você disse?
_ Disse que ela tinha razão e que eu já havia consultado um especialista e ele tinha dito que ambos precisávamos de tratamento. Seríssima, como sempre, ela perguntou: " Quem é o analista? O que ele falou?" Eu respondi:
_ Você não conhece. É o Dr. Eros Brasileiro. Disse que eu tenho DAAS e você DPT.
_ E aí?
_ Ela franziu o cenho e olhou-me interrogativamente. Encarei-a e, com um sorriso maroto,
concluí: tenho Deficit Acentuado de Atividade Sexual e você Deficit Permanente de Tesão!
_ Qual foi a reação dela?
_ Se não tivesse sido tão rápido, o cinzeiro teria feito um estrago enorme na minha cabeça e não no televisor!
Encerramos o assunto sem concluir a partida de gamão. Nunca mais tive notícias do meu amigo. Espero que as coisa tenham-se acalmado, mas estou sempre disposto a ouví-lo. Afinal, amigo é prá essas coisas! No entanto, agradeço a Deus todos os dias o fato de ter casado com uma nutricionista!

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