sábado, 20 de março de 2010

A Instituição

Outro dia, vendo um programa de TV sobre a sexualidade dos jovens, fiquei impressionado como eles, apesar da enorme quantidade de informações sobre sexo, as quais têm acesso na escola, na Internet, na midia, em casa - penso eu - são imaturos, inseguros e ingênuos. Até indefinidos, acho.
Faço referências, principalmente, aos jovens do sexo masculino. No meu tempo, após a puberdade, período angustiante no qual o indivíduo hora falava normal hora em falsete - desafinava - e andava sempre de braços cruzados para esconder a ginecomastia, o sujeito estava sexualmente definido: macho ou veado. Hoje as coisas mudaram. Há várias opções. O sujeito pode escolher entre hetero, homo, bi ou transexual. É verdade que alguns chegam à puberdade já sexualmente definidos, outros, entretanto...
_ E aí cara, você é...
_ Estou no período de transição, ainda não me defini. Estou lendo a Marta Suplicy e vendo a Laura Muler no programa do Serginho Groisman. Logo mais isso será resolvido.
Pois é! E antigamente? Como , graças a Deus, não havia essa parafernália de informações nem sexólogos, tudo era resolvido no velho e saudoso cabaré.
O jovem ia a primeira vez, geralmente, levado por um amigo mais velho e experiente ou pelo próprio pai. Entrava no quarto tremendo mais do que vara verde. A mulher ficava nua e deitava na cama com as pernas abertas. Quando o sujeito via aquela maçaroca - não havia xinim a "la Kojak" nem aparado rente, era tudo"black power" - ou corria para cima, dava conta do recado e saía do quarto sorrindo feito bobo, ou saía do quarto correndo sem olhar para trás, com medo daquele enorme capuxu. Pronto. Essa experiência única era suficiente para definir a sexualidade do indivíduo: macho ou veado. Em alguns casos, entretanto, quando o menino era levado pelo pai, uma figura importante como os famosos coronéis - patente comprada ou dada pelo governador em troca de votos - a sexualidade não se definia de imediato. Por medo do pai, o jovem não saía correndo do quarto, permanecia lá mas não fazia nada. A veadagem só era conhecida mais tarde, em muitos casos, depois do casamento quando, mesmo o "terreno" sendo fértil, não dava frutos.
O cabaré foi uma instituição de grande importância na vida dos homens em geral. Nele se aprendia tudo sobre sexo e, também, se contraía todo tipo de doenças venéreas - as atuais DSTs - tratadas, pelo farmacéutico à base de Benzetacil. Meu Deus como doía! Após a aplicação, o braço parecia que tinha sido triturado por uma prensa. Quando a coisa era mais séria, a aplicação era feita na bunda. Nesse caso todo mundo ficava sabendo, pois o sujeito passava alguns dias com dificuldades de andar e sentar. Doía pra caramba, mas o importante mesmo era provar do fruto proibido pois dor é coisa de macho, mesmo. Talvez, alguns optassem pela veadagem, com medo de tomar Benzetacil.
_ E aí meu amigo, como foi?
_ Benzetacil de 1.200.000 UI. Se ele tivesse arrancado o meu braço talvez tivesse doído menos.
Depois da primeira vez, mesmo correndo o risco de tomar a famigerada Benzetacil, muitos passavam a frequentar o cabaré diariamente. Faziam dele o segundo lar.
Um cabaré de boa qualidade possuía uma clientela extremamente variada. Era possível encontrar fazendeiros ( nos finais de semana, feriados e à noite); o pessoal da justiça e políticos ( entravam pele porta dos fundos); pessoas comuns (comerciantes, bancários, etc.); gente do clero que ia "catequizar" as prostitutas, e também entrava pelos fundos ; e, a fina flor do cabaré e das prostitutas: boêmios e malandros. Não, nem sempre é a mesma coisa. Há - pelo menos havia - boêmios que trabalham.
Quando o indivíduo caía nas graças de uma puta, estava com a vida feita. Não gastava nada. Ao contrário, as vezes recebia uma pequena ajuda pelo serviço prestado: levá-la ao orgasmo.
Um detalhe curioso é que uma rapariga inteligente nunca tomava cerveja em serviço. Ficava bebericando chá com gelo e ao otário que estava com ela, tomando cerveja, era cobrado whisky.
O sujeito enchia a cara, ia para o quarto e não fazia nada, dormia. Quando acordava não lembrava de coisíssima alguma e pagava uma conta astronômica - a despesa da mesa e a chave do quarto - da qual a prostituta tinha uma comissão.
Isso nunca acontecia com boêmios e malandros. Eles não pagavam, recebiam. As vezes, porém, havia incoviniência quanto à "merenda". Quando eles chegavam ao cabaré e a mulher da qual eles gostavam ou vice versa, estava acompanhada, tinham que esperar o sujeito dar o fora, fato que podia durar o dia todo. Quando finalmente isso acontecia, só restava uma opção: comer pão com manteiga!

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