_ Tô transando com uma gata sensacional. A mulher tá me deixando louco, cara. É linda, linda, linda!
_ Idade?
_ Menos de trinta.
_ Solteira?
_ Casada.
_ Há quanto tempo?
_ Mais de um ano.
_ Sem ônus?
_ Presentes, principalmente jóias. Você sabe como é que é, né? Mulher nova, bonita e vaidosa.As vezes ajudo nas despesas gerais.
_ Outra família, hein?
_ Financeiramente estou bem e a mulher vale a pena. É uma tremenda gata, uma deusa! Tá me deixando louco. É um vulcão em erupção! Com ela, os estimulantes sexuais não são necessários. É uma coisa de louco! E você, hein? Com essa idade deve ter uma coleção de gatas.
_ Não. Transo com uma coroa bacana.
_ Coroa?
_ Por que não?
_ Você é um cara novo, pode conseguir mercadoria melhor. Material de primeira. A mulherada tá dando adoidado. Transa bem, pelo menos?
_ Divinamente. Cada transa é como se fosse a última. Uma loucura, e o melhor, sem nenhum ônus.
_ Como assim?
_ Paga tudo. Restaurantes, motéis, combustível e, quando o salário acaba, ainda forra minha mão.
_ Solteira?
_ Casadíssima! O marido é um coroa cheio da grana, assim como você. que, segundo ela, não dá mais no couro. Só entra na festa levado pela mão e ela é insaciável.
_ Você tá insinuando que eu...
_ Eu fiz referência à grana.
_ Você transando com uma coroa, como é que pode?
_ Coisas da vida.
Estavam na cama. Ela vendo a novela e ele lendo.
_ Querida, você lembra daquele meu colega, um moreno, uns trinta anos mais ou menos, que esteve, com a esposa, naquele sítio no carnaval oferecido pela empresa? Um cara bonitão, lembra? Faz tempo.
_ Lembro. Eu e ela tivemos um certo desentendimento a respeito do comportamento de vocês, os homens. Ela me pereceu uma sirigaita presunçosa. Por que a pergunta?
_ Me encontrei com ele hoje. Fazia muito tempo que a gente não se via. Desde que ele foi trabalhar na outra filial. Ele me contou que tá transando com uma coroa com mais de sessenta anos, que financia tudo quando eles saem e ainda lhe dá algum dinheiro Você já pensou? Fiquei impressionado. Como é que pode? Um cara novo transando com uma bruaca velha, casada, só por causa de dinheiro. Sei não!
Ela ficou calada, pensativa, distante.
_ O que você acha?
_ Isso é coisa que não me interessa.
Permaneceu calada. Algum tempo depois, desligou a TV, tirou, delicadamente, o livro das mãos dele, apagou a luz e resolveu dar uma mãozinha para tentar animá-lo, embora pensando no moreno bonitão, seu pierrot há alguns carnavais que só necessita de ajuda financeira.
O restaurante elegante, recém inaugurado, fora indicado indicado por uma amiga dela. Quase no final do jantar ele disse:
_ Amor, posso lhe fazer uma pergunta indiscreta?
_ Pode.
_ Você é muito vaidosa, né?
_ Sou, e daí? Era essa a pergunta indiscreta?
_ Não. Você teria coragem de me trair com um cara com mais de sessenta anos, só para satisfazer a sua vaidade?
_ Me respeite. Eu sou uma mulher honesta. Você, com sua mente suja, acha que tudo se resume em sexo. Não pode ver uma mulher, não importa a idade. Só pensa em sexo.
_ Também não é assim.
_ É sim, seu tarado. Por que essa pergunta sem sentido?
_ Me encontrei com um colega da empresa que não via há bastante tempo, um coroa metido a gostosão que esteve conosco num carnaval oferecido pela empresa. Carnaval num sítio, lembra?
_ Aquele casal cinquentão que...
_ Sessentão.
_ Cinquentão ou sessentão não interessa. Lembro que você passou os quatro dias de carnaval paparicando a mulher dele. " Dona Lu pra cá, Dona Lu prá lá". Foi o carnaval todinho assim.
_ Não lembro disso.
_ Mas eu lembro. O que que há? Por que a primeira pergunta?
_ Estivemos juntos tomando alguns chopps. Ele me contou que tá transando com uma mulher casada, linda com menos de trinta anos, assim como você.
_ O que você quer dizer com isso?
_ Nada não. Ele disse que cobre ela de presentes e jóias. Como é que pode, hein? Uma mulher nova, casada, chifrar o marido com um coroa que, acho eu, nem dá mais no couro, só por vaidade. O que que você acha?
_ Pura semvergonhice. Vamos parar com esse assunto?
_ Tudo bem, amor. Desculpe a minha pergunta.
_ Tá desculpado, disse ela encerrando a conversa. Discretamente, olhou para o anel de brilhante na mão esquerda enquanto, com a direita, tocava nos brincos. Presentes novos, lindos e caríssimos.
_ Querido, peça a conta, por favor. Não estou me sentindo bem, ela disse após alguns instantes de distração.
_ Por causa da minha pergunta?
_ Não. O tempero, talvez.
Mentira. Na realidade, além da pergunta, o incômodo maior estava sendo causado pelos sapatos e pela calcinha, presentes que estava usando pela primeira vez e que estavam um pouco apertados.
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