quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Primitivismo

Os acontecimentos recentes, transmitidos para todo o país por vários canais de televisão sobre o comportamento de alguns jovens - alunos e alunas - da UNIBAND, em relação a uma colega, serviram para demonstrar à nação, atos de falsa moralidade e primitivismo extremos de alguns dos nossos futuros dirigentes.
A mim parece que, o quase linchamento da estudante, dentro da própria Universidade teve pouquíssimo a ver com a tamanho de sua roupa, e sim com a reduzida mentalidade de seus colegas, bem como de dirigentes de alguns setores da referida instituição de ensino. Presenciamos cenas e agressões verbais bastante desagradáveis. A troco de que?
Talvez o Homo neanderthalensis tivesse o mesmo comportamento selvagem de alguns daqueles jovens - aqui refiro-me aos homens - simplesmente pela sua natureza do macho diante de uma fêmea, mas, certamente, ele agiria com outras intenções, e não por querer expulsá-la de seus domínios.
O ocorrido me fez lembrar dos tempos da faculdade. Éramos uma turma pequena, menos de 20 alunos no curso . Mesmo pequena, para não fugir à regra, tinha na nossa, como acontece em qualquer turma, pequena ou grande, um "gênio". Na verdade "uma" ao invés de um.
Tratava-se de uma pessoa um tanto quanto, digamos assim, indefinível na sua maneira de ser e comportar-se. Era uma mistura de CDF com uma pitada de ingênua imbecilidade, acrescidos de uma tremenda necessidade de aparecer. Talvez por uma questão de auto-afirmação. Como formávamos uma turma mínima, era impossível ela não se destacar, tanto pelo "intelecto" quanto pelas formas anatômicas. Quanto ao tamanho de seus vestidos e saias, era de deixar a Mary Quant escandalizada. Seu comportamento, suas atitudes e questionamentos eram, notava-se facilmente, premeditados e propositais, não só os audíveis como também os visíveis. Eram bastante chamativos, palpáveis. Em todos os sentidos. Mesmo assim, nunca houve, por parte da turma ou qualquer pessoa da faculdade, nenhum tipo de indignação ou protesto. Pelo contrário, achávamos o máximo e estávamos - os seis marmanjos da turma - sempre ao seu redor, apoiando, elogiando, valorizando, mesmo que hipocritamente.
Depois de uns dois anos, conseguimos modificar, em parte, o seu comportamento, através de situações do dia a dia, como no exemplo que se segue.
Estávamos numa aula de Reprodução Humana, na qual o professor de Anatomia explicava o mecanismo de expulsão do feto, através das contrações uterinas e da dilatação da vagina, sob a ação de hormônios, principalmente a ocitocina e a prolactina. Explicava que o parto é algo muito difícil e doloroso tanto para a mãe quanto para a criança.
Terminada a explicação, veio a pergunta que ninguém esperava que, pelo que acabáramos de ouvir do mestre , fosse tão inconsequente, usando de eufemismo.
_ Professor ter um nenê dói muito?
Não acreditando no que ouvíramos, ficamos aguardando, com certa ansiedade, a resposta e torcendo para que a mesma fosse bastante cretina, algo a altura do questionamento. A mesma não demorou e superou as nossas expectativas.
_ Se dói muito eu não sei, por razões óbvias. Mas deve ser, acho eu, assim como cagar uma jaca!

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