terça-feira, 20 de novembro de 2012
Monólogo
Acho que me encontro no lugar que meu pai costumava chamar de "ôco do mundo".Lembro bem de ouví-lo, no seu modo simples e manso de falar. "O ôco do mundo é um lugar que num tem nada. Num tem gente, num tem bicho, nem planta tem. É um lugar diferente, esquisito, muito esquisito!"
Pois é: acho que estou no lugar, tantas e tantas vezes, descrito por meu pai. Um lugar diferente, ermo, totalmente ermo, quieto. Nada à direita, nada à esquerda, nada à frente, nada às costas. Olho em todas as direções e, até onde minha vista alcança, nada! Sem viv'alma. Quieto, tudo quieto. Uma quietude incômoda, exasperante, opressiva, capaz de abalar os meus sentidos, ao ponto de me fazer ouvir o barulho do silêncio. Como está acontecendo agora. Ouço o som (ou barulho) sibilante do silêncio martelando os meus tímpanos, invadindo o meu cérebro, turvando minha visão, dificultando a minha salivação e inalação do ar, fato que me provoca a dilatação das narinas. Sinto um calafrio percorrendo todo o meu corpo, o que me causa um indesejável mal estar.
Estou, literalmente, no meio do nada! Impossível? Como impossível? Não existe? Claro que existe. O nada existe sim! As coordenadas? Que coordenadas? Latitude e longitude? Ah!. A localização exata, não é? Tudo bem, tudo bem. O meio do nada localiza-se equidistante do início e do fim de tudo. Entendeu? Convencido? Não? Vamos raciocinar assim: tudo existe, certo? Ótimo! Então, se tudo existe, nada também existe! É meu caro. são as leis naturais da Física. Ação-reação; organização-caos; matéria-antimatéria; tudo-nada.Isso é diferente? Como assim, diferente? Basta um pouco de bom senso: se é diferente é porque naturalmente, de acordo com a Física, existe o contrário, igual.
Não me venha com essa. É verdade que essa imensidão erma, essa vastidão deserta, essa quietude exasperante, abalou, um pouco o meu raciocínio, mas daí até levar-me â loucura, não tem sentido. Até porque, eu estou apenas vivenciando uma história tantas e tantas vezes narrada pelo meu pai, na lucidez dos seus mais de cem anos. Há outras narrativas interessantes dele, como as batalhas navais travadas com os submarinos alemãs, no Rio Amazonas, durante a segunda guerra mundial. Mas isso é outra história.
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