Quando o amigo perguntou-lhe se gostaria de fazer um curso de espanhol, não respondeu. Ficou a divagar. Fizera, quando jovem, o IBEU e até hoje praticava constantemente o inglês. Conhecia um pouco de francês, resquícios do antigo curso Ginasial quando era obrigatório estudar, além da língua pátria, Inglês, Francês e Latim. Ah, o Latim! Como tivera dificuldades com o mesmo. Guardava, em sua memória, desde aquela época, as famosas declinações que tanto o fizeram sofrer: nominativo(homo); genitivo(hominis); dativo(homini); acusativo(hominem); e, ablativo(homine). Some-se a isso um professor extremamente exigente- caxias - que estava sempre acitar uma frase de Séneca - Non scholae sed vitae discimus ( Aprendemos não para a escola, mas para a vida) - e não deixava ninguém esquecer que ele fora tutor de Nero. Por que eu tenho que saber isso? Questionava-se sempre sobre a importância de Séneca e Nero na sua vida.
_ E então o que você me diz?
Voltou ao presente.
_ Ah, sim. O curso de Espanhol? Não sei. Sinceramente não sei.
Na realidade o Espanhol nunca lhe despertara o menor interesse. Talvez porque sempre considerara o Espanhol um Português mal falado ou talvez - o mais provável - por causa de
"los hermanos portenhos". Não que tivesse algo contra, mas nunca aceitara nem entendera a impáfia dos "manitos". Mesmo depois de encontrar, na Internet,uma definição bem coerente sobre eles: "portenhos são italianos que falam castelhano, pensam que são ingleses e gostariam de ser franceses".
_ Por que a dúvida? Perguntou o amigo
_ Francamente eu jamais pensei em fazer um curso de espanhol. Nunca me apeteceu. A semelhança com o Português pode ser o motivo.
Não estava sendo sincero.
_ Por que esse interesse repentino pelo Espanhol? Ele perguntou ao amigo.
_ A empresa que trabalho é espanhola e tá oferecendo o curso aos funcionários. Trata-se de intercâmbio cultural com a filial da Catalunha. No meu caso , devido ao cargo que ocupo,posso convidar um amigo e considerando que você está sempre pesquisando, estudando, escrevendo e
buscando coisas novas achei ser a pessoa ideal.
_ Sei. Quer dizer, não sei.
_ Como não sei? Você só tem a ganhar. Veja as vantagens: o horário é flexível, há distribuição de material audio-visual, diploma reconhecido pela Universidade de Madrid e, para completar, é tudo zero oitocentos.
_ Interessante. Pode ser pela manhã?
_ Não. As aulas só podem ser à noite.
_ E a novela das oito?
Na verdade ele detestava novelas. Estava apenas tentando encontrar uma maneira de dizer não sem desagradar o amigo.
_ Pode ser apenas uma vez por semana. Não vai atrapalhar sua novela. Pense no diploma. Ele vai enriquecer ainda mais seu vasto currículo.
_ Nessas alturas do campeonato um diploma a mais ou a menos já não tem tanta importância para o meu currículo, a não ser que São Pedro, Gabriel e Lúcifer - temos que considerar todas as possibilidades - estejam exigindo diploma de espanhol para os casos de estadia permanente.
_ Meu amigo você está sendo derrotista. Já pensou em ler grandes mestres da língua espanhola no seu texto original? Nada de erros linguísticos ou arranjos grosseiros na tradução, como normalmente acontece. E então?
Estava amarrado para a onça comer. Fez uma última tentativa.
_ Quanto tempo?
_ Depende do número de aulas semanais. Se você fizer só uma por semana, conclui o curso em quatro anos.
_ Quatro anos? E se durante esse período o Alzheimer resolve me visitar? Tudo em vão. De nada valeu o esforço. Sei não. Acho que não tem muito fundamento e olha que eu bem que gostaria de entender melhor as letras das músicas de Mercedes Sosa.
_ Pois então? Posso apanhar a sua ficha de inscrição? Tá bem ali no carro, é rapidinho. O sujeito que vai ministrar o curso é uma sumidade. Fez doutorado na Universidade de Barcelona. Ensina em duas universidades brasileiras, e vive viajando pelo mundo todo dando palestras e participando de simpósios e congressos.
_ Quanto a isso eu não tenho a menor dúvida. O meu problema é em relação ao tempo que no meu caso, por uma questão de bom senso, acho que já não disponho de muita coisa.
_ O que é isso meu amigo? Não estou-lhe conhecendo. Você ainda é uma pessoa nova e qutro anos passam rapidamente.
_ Eu agradeço por ter lembrado do meu nome e pela força que você esta-me dando. É verdade que quatro anos passam rápido,mas acho que vou deixar para aprender espanhol mais tarde com Cervantes, Neruda, Dali, Simon Bolivar, Picasso e outros mais quando encontrá-los em outra dimensão.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
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